terça-feira, 15 de março de 2016

Desigualdade em infraestrutura é catalisadora do surto de zika no Brasil

O mosquito, diz um ditado, é democrático: pica ricos e pobres. Mas o atual surto de Zika vírus no Brasil revelou uma profunda desigualdade quando se trata de quem arca com a maior parte do fardo de viver entre os insetos.

"Você vê nuvens de mosquitos ao redor das pilhas de lixo aqui no meu bairro", disse Gleyse da Silva, que mora em uma das regiões mais pobres de Recife, que está no epicentro da epidemia de zika. Gleyse, 27, contraiu o vírus transmitido por mosquito na gravidez e em outubro deu à luz Maria uma das mais de 700 crianças nascidas no Brasil com microcefalia, uma má-formação cerebral, desde que o surto de zika foi detectado no ano passado.

A doença, altamente suspeita de ter relação com o vírus, retarda o crescimento da cabeça e do cérebro, levando a problemas de desenvolvimento. A vizinhança superpovoada de Ibura, onde Gleyse mora, não fica longe dos arranha-céus à beira-mar de Recife, mas as condições de vida estão a um mundo de distância.

 As ruas do bairro, que abrigam 50 mil pessoas, estão repletas de lixo, e só 10% das casas têm esgoto ou água encanada, o que as torna um terreno fértil para a proliferação dos mosquitos.Às vezes a cidade vem coletar o lixo, mas a maior parte do tempo ele simplesmente se acumula.

Gleyse da Silva
O Brasil fez avanços significativos no combate à desigualdade na última década, retirando cerca de 40 milhões de pessoas da pobreza. Mas o surto de zika, detectado pela primeira vez nas Américas em 2015, e a pior recessão em décadas expuseram as limitações do despertar brasileiro já em decadência.
Reuters

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